Resiliência e flexibilidade na viagem à Grécia
Na sexta edição dos Caminhos dos Sentidos, tendo a Grécia como destino, tivemos a oportunidade de vivenciar inúmeros desafios, a maior parte em relação ao clima. Nunca numa viagem havia passado por tantos sobressaltos. E olha que viajo bastante!
Nas semanas que precederam à viagem várias florestas na Grécia foram consumidas por incêndios, inclusive nas proximidades de Atenas e pelo Peloponeso. Mas quando lá chegamos foi o elemento água que se fez presente.
Nos dois primeiros dias choveu muito de tal forma que tivemos de visitar o templo de Asclépio e as ruínas de Olimpia com capas ou guarda-chuvas. No terceiro dia a chuva foi dando lugar a uma forte ventania e assim visitamos o templo do oráculo de Delfos. Recebemos a ventania como uma forma de benção de Apolo, deus daquele templo. Só não sabíamos que no vale, do outro lado da montanha, caia uma tempestade considerada épica pelos locais. Essa tempestade foi de tal proporção que deixou ilhada a região de Meteora, nosso destino no dia seguinte!
Na manhã seguinte, ao ligar para o hotel em Meteora, fomos informados que a estrada em direção à Atenas estava embaixo de água, boa parte destruída – exatamente a que pegaríamos! Mas um outro caminho, contornando o país pelo oeste era possível, só que levaria o dobro do tempo! Sendo Meteora um destino imperdível, optamos pela rota alternativa. A estrada era muito boa, com várias pistas, o que compensou a distância. Mas quando deixamos a auto-estrada e nos dirigimos para Meteora podemos perceber o tamanho dos estragos. Máquinas na pista ainda retiravam pilhas de lama que haviam descido das montanhas. Depois de seis horas de estrada chegamos à Meteora. Poucos turistas, muitas reservas canceladas, as estradas no vale sem qualquer movimento.
No dia seguinte finalmente tivemos um dia de sol e céu azul, e assim visitamos os monastérios ortodoxos que há cinco séculos ali estão no topo daquelas estruturas rochosas, desafiando a gravidade. Uma paz e uma energia habitam naquele lugar.
Como o vale ainda permanecia alagado e a estrada interditada – assim ficou por mais de uma semana – nossa única alternativa foi o longo caminho percorrido na ida e ainda seguir pelo norte do Peloponeso até o porto de Pireus. Outras muitas horas de estrada, felizmente percorridas sem sobressaltos, que ainda nos levaram a conhecer uma charmosa taberna grega, em Patras, indicada pelo campeão de tênis Rafael Nadal.
Em Pireus deixamos o carro e fomos para o ferry que, durante a noite, navegaria rumo à cidade de Heraklion, na ilha de Creta. Check in realizado, nos alojamos nas cinco confortáveis cabines reservadas. Estávamos no deck da recepção lanchando quando chega a informação que o navio estava com problemas técnicos e seria substituído por outro. Duas horas depois chegou o segundo navio. Passageiros, carros e caminhões desembarcam e embarcam no segundo ferry.
Começamos a perceber uma grande insatisfação por parte dos gregos, mas não entendíamos o que acontecia, afinal eles falavam grego. Uma grande confusão se formou que foi necessário chamar a policia. Ai compreendemos que, mesmo sendo o navio mais novo e maior, o numero de cabines era bem menor! No final conseguimos apenas duas cabines e assim nos instalamos. Só que a história não acabou. Na manhã seguinte, na hora que deveríamos estar chegando em Heraklion, ainda estávamos em Pireus. No final da noite anterior a Autoridade Portuária tinha fechado o porto por conta de uma forte tempestade no mar.
Como ao meio dia ainda permanecia a situação de porto fechado, sem previsão de reabrir até o final do dia, a empresa do ferry disse que reembolsaria os bilhetes de quem desejasse desembarcar. Vimos que haviam ainda vários voos de Atenas para Heraklion naquela tarde e então aceitamos a oferta. Fizemos o check out e nos dirigimos para o aeroporto. Passagens aéreas compradas, finalmente estávamos novamente à caminho.
Na manhã seguinte, outro lindo dia de sol e céu azul, que nos acompanhou até o fim da viagem. Visitamos o magnifico Palácio de Knossos e exploramos as ruas de pedestre de Heraklion. Quando nos dirigíamos para o museu arqueológico meu celular toca – era o transfer de Santorini que me informava que o ferry da manhã seguinte não sairia, por conta de uma greve! Não acreditei no que ouvia. Imediatamente me dirigi ao escritório da empresa do ferry, que havíamos passado no caminho, e eles nos alocaram em outra embarcação que sairia uma hora mais cedo. Ufa!
A viagem para Santorini foi maravilhosa, assim como nossa estadia e passeio de barco pela cratera. Atenas, nossa última parada, também foi sem problemas, apesar da Acrópole estar LOTADA. E nosso hotel tinha um simpatico bar na cobertura com uma vista de cartão postal para o Partenon iluminado! Fizemos ali o fechamento da viagem.
Refletindo sobre as “pedras no caminho”, as chuvas no inicio da viagem se transformaram em benção – a água purifica. O vento em Delfos nos protegeu da tempestade que caia do outro lado da montanha. Apesar do tempo maior na estrada, conseguimos visitar Meteora como previsto. Só deixamos de visitar o museu de Tebas, porque estava na região alagada. O primeiro ferry ter tido problema técnico e não zarpar nos protegeu de pegar a tempestade em alto-mar. Sermos ressarcidos no segundo navio e termos conseguido, em alta temporada, passagens aéreas de ultima hora, quase um milagre. E a greve do ferry para Santorini, bem isto faz parte da realidade atual de manifestações por melhores salários, mas fomos alocados sem contratempos – santo transfer de Santorini que me avisou da greve! Como dizia minha avó, estes problemas só tem quem viaja. Prefiro tê-los, mas é necessário uma dose extra de resiliência e flexibilidade.
Celebremos à oportunidade de mais uma viagem realizada com sucesso!