Necessidades e expectativas
Na semana passada, no 36. Diálogo do Parsifal21, tivemos a apresentação de conceitos relacionados a Contratos Conscientes® pela advogada Fernanda Guerra. É uma abordagem inovadora no âmbito da esfera jurídica. Busca promover uma relação consciente e igualitária entre as partes ao elaborarem um contrato, seja na constituição de uma sociedade, na aquisição de bens, na prestação de serviços, etc
Fernanda ressaltou muitos itens que geralmente não nos atemos quando pensamos em contratos. Mas o que ficou martelando na minha mente por dias é a importância dos distintos pactuantes do contrato estarem conscientes de suas necessidades e de suas expectativas em relação ao negócio em si e em relação aos demais pactuantes. E quanto mais reflito a respeito, mas percebo quão importante é.
Na facilitação de oficinas e cursos é comum se iniciar os trabalhos fazendo acordos e levantando as expectativas dos participantes.
Poderíamos pensar que acordos como observar os horários de inicio e fim das atividades e não usar celular durante os trabalhos estariam relacionados às necessidades dos facilitadores em seguirem a programação conforme planejado e evitar distrações. Mas, pelo lado de algum participante, outras necessidades podem se opor a estas, tais como a necessidade de ser contactado a qualquer momento e ter de se ausentar, por ter um filho adoentado. Enquanto outro participante tem a necessidade de um tempo maior do que o planejado para o almoço, para ir ao banco resolver um problema. E um terceiro participante tem a necessidade de sair mais cedo para fazer um exame marcado há meses. Estas são necessidades concretas que podem ser acomodadas, de alguma forma, ajustando a programação.
E quando falamos das expectativas? Geralmente tratamos do que os participantes almejam alcançar ao final do evento: Ter aprendido a usar uma ferramenta; Que os objetivos propostos para o curso tenham sido alcançados; Que seja incentivado um clima de colaboração entre os diferentes grupos, etc Aqui entra uma perspectiva individual na avaliação do resultado. O que pode ser 100% para um pode ser 80% para outro e até 50% para um terceiro. Então teremos diferentes avaliações para um mesmo resultado. Cabe ao facilitador procurar identificar o que ajustar no programa ou até mesmo na sua divulgação, de modo que as expectativas de todos os participantes sejam melhor atendidas na próxima vez
Trouxe aqui um contrato de prestação de um serviço, no caso um curso ou oficina. Falando assim, até parece fácil, mas não é. Sobretudo porque as pessoas, em geral, não estão conscientes de suas necessidades e expectativas. E quando há esta consciência, não as explicitam claramente aos demais.
Quando falamos em contratos entre sócios poderíamos imaginar que seria mais fácil alinhar necessidades e expectativas, afinal todos estariam ali pelo propósito do negocio. No entanto já ai podem surgir diferenças em como cada um se identifica com o negócio. O que para um sócio é uma necessidade, para outro pode ser uma expectativa e para outro pode não ser nem necessidade nem expectativa. As necessidades podem ser concretas tais como um valor mínimo de remuneração mensal ou de caráter individual como padrão de excelência em relação ao material de comunicação. Da mesma forma, as expectativas podem ser mensuráveis como uma participação de 80% dos sócios nos encontros de confraternização ou a partir de percepções individuais tais como há pouco engajamento nas mídias sociais.
Aprendemos com Maslow que as pessoas se encontram em diferentes níveis em termos de necessidades. Da mesma forma, expectativas também dependem de pessoa a pessoa. Então, neste contexto complexo, quais seriam as necessidades e expectativas prioritárias sobre as quais deveríamos buscar nos ater? Talvez seja ai o inicio da co-criação de um acordo consciente. Chegarmos num entendimento inicial sobre que níveis de necessidades devemos focar. Se for necessidade para algum dos sócios, passa a ser prioritária. De forma semelhante, pensarmos nas expectativas.
Minhas reflexões ainda me levam para longe, mas um certeza que tenho é que quero saber mais sobre Contratos Conscientes®. E você, o que opina?